Cinderella desmistificada

CINDERELLA

Lembram-se da Cinderella? Oh, claro que se lembram!
Quem se ia esquecer desse marco cultural infantil? A bela Cinderella, para muitos Gata Borralheira, que era amiga dos ratos cantores e tinha uma madrinha que era fada e passarinhos costureiros e… Bibbidi-Bobbidi-Boo!

Só que não! Tal como nas crónicas anteriores esta é mais uma das histórias de encantar que é pouco encantadora na sua génese. Se calhar a única versão que conhece é a do filme da Disney dos anos 50, mas os Irmãos Grimm (mais uma vez) foram os inspiradores.

A história que se conta…

Uma pobre adolescente era cruelmente obrigada a trabalhar para a sua madrasta e para as suas duas filhas ‘balhaus’ [termo arcaico para: mulher feia]. Tudo se passa à volta de um reputado baile de um ainda mais reputado príncipe que, guloso, convida todas as mulheres solteiras para escolher uma para si.

A triste maltrapilha recebe a ajuda da sua fada madrinha que encanta animais e a enche de brilhantes da cabeça aos pés… literalmente, já que até os sapatos ‘são do cristal mais fino’.

A Cinderella lá se diverte no baile, mas seguindo regras da magia dá-se uma dramática fuga à meia-noite onde esta chega a perder um dos sapatos.
O príncipe, sem nunca ter conseguido o nome dela procura por todo o reino a rapariga a quem o sapato servisse na perfeição, já que ao que parece todas as mulheres teriam pés de tamanhos diferentes.
Eventualmente, no meio das peripécias, a Cinderella lá é descoberta e lá recebe de volta o seu sapato (que curiosamente foi a única coisa que não se desfez da magia da fada madrinha).

E viveram felizes para sempre. E viveram felizes para sempre. Bibbidi-Bobbidi-Boo!

A Cinderella original nem o era!

Existem duas faces nesta moeda. Por um lado a versão do folklore europeu e por outro uma versão que foi remisturada por mais de 2000 anos.

A história de uma mulher que ultrapassa a opressão para se casar com alguém de um estatuto social superior e ser salva de uma família que não a amava ou apreciava é incrivelmente vulgar, mas igualmente poderosa ao ponto de estar presente nas histórias da Grécia antiga desde o sexto século antes de Cristo, ou na China do início das dinastias.

Nesta versão grega a jovem dava pelo nome Rhodopis e vê um de seus sapatos ser roubado por uma águia, que voa sobre o Mediterrânico e o deixa cair no colo de um Faraó Egípcio. Vendo o sapato como um sinal dos deuses o faraó atravessa o mar testando-o em todas as mulheres bonitas que encontra até que, eventualmente, a encontra e a torna Rainha do Egipto.

A versão chinesa, mais antiga, conta que a jovem Ye-Xian [pés-pequenos] recebe um desejo divino de uma espinha de peixe mágico, que usa para criar o mais belo e brilhante dos vestidos esperando que o monarca a corteje. Através de peripécias várias este acaba por receber um de seus sapatos que brilhava prateado como as escamas da mais bela das carpas. Tal como Rhodopis, Ye-Xian é encontrada pelo monarca devido aos seus pequenos pés que encaixam na perfeição. Curiosamente em ambas as histórias as jovens eram maltratadas pela madrasta e, ambas, concordam que a má madrasta deve ser apedrejada até à morte.

Muitos anos se passam…

Pela Europa, mais de 500 histórias podem ser encontradas com as características ‘cinderelescas’ que procuramos. Cenerentola, publicada numa compilação italiana do século XVII conta que uma jovem, de seu nome Zezolla, é forçada a casar com o rei local que a adora pela sua beleza. Ela foge e é acolhida e escondida por uma mulher que a escraviza e que tem 6 (sim, seis) filhas ‘balhaus’. No entanto, é descoberta devido a um sapato mágico amaldiçoado.

Sessenta anos depois esta história recebe uma contribuição francesa e é publicada sob o nome Cendrillon, por Charles Perrault. Nesta versão é introduzido o sapato de cristal, a abóbora carroça e a madrinha fada que habilmente a Disney vai repescar para não seguir os exagerados Irmãos Grimm.

O que deu a GRIMMagem da cinderella?

Os Irmãos Grimm, 100 anos volvidos, criam toda uma outra versão que as remistura do folklore. Nesta história original o seu verdadeiro nome seria Os Irmãos Grimm, 100 anos volvidos, criam toda uma outra versão que as remistura do folklore. Nesta história original o seu verdadeiro nome seria Aschenputtel e seria basicamente uma jovem bruxa que controlava os pombos. Capaz de proezas mágicas controlando o seu exército de pombos encantados de olhos vermelhos.

Recordam-se da fada Bibbidi-Bobbidi-Boo? Os Grimm preferiram o fantasma da mãe da jovem que falava através de uma árvore que crescia na sua campa. Menos cantante, mas muito… ? Os Grimm preferiram o fantasma da mãe da jovem que falava através de uma árvore que crescia na sua campa. Menos cantante, mas muito… Grimm. Esta árvore teria crescido graças aos rios de lágrimas que Aschenputtel chorava sobre a campa.

Ora, nesta história, o exército de pombos junto com as instruções e magias fantasmagóricas da árvore-mãe oferecem-lhe um fantástico vestido para que possa ir a um baile importante da cidade.
Ainda assim, munida de um fantástico vestido, a jovem é castigada pelo seu pai biológico e madrasta a só poder sair para o baile se conseguir separar um saco de lentilhas de um saco de cinzas que fora maldosamente misturado por eles. Seria uma tarefa impossível se ela não tivesse um exército de pombos zombie.

Com os Grimm, a jovem vai a mais do que um baile e o príncipe tenta sempre segui-la até casa para a identificar. Finalmente, o príncipe tem a ideia de espalhar uma lama colante e preta no chão para evitar que ela fuja… porém fica apenas um sapato.

Eu podia dizer-vos que o resto era igual, só que não!

O príncipe quando aparece na quinta onde ela vive a cada sítio que diz ir investigar, o pai decide destruir: Pombal, ele pega-lhe fogo; Árvore bela no jardim, ele corta-a; Celeiro, incendeia-se… Entretanto as irmãs ‘balhaus’ fazem de tudo para calçar o sapato, que afinal seria de ouro, até ao ponto de cortarem os próprios dedos dos pés deixando o sapato numa poça de sangue.

O príncipe depois propõe experimentar na moça da cozinha quando a vê, gravemente ferida pelo incêndio causado pelo pai, caminha amparada por pombos na sua direcção. As irmãs, invejosas, correm para terminar o que o pai não tinha conseguido só que a jovem defende-se usando o seu exército de pombos que arrancam os olhos a sangue frio às ‘balhaus’.

Macabro? Muito Grimm, porque dentro do mal todo lá casou uma jovem gravemente queimada e de beleza destruída com o príncipe: o verdadeiro amor!

É juntando as peças de um puzzle que se aprende!

Não quero destruir-lhe as suas memórias de infância, mas saber não ocupa lugar e, certamente, hoje já possui clareza de mente, abertura de espírito e vontade de perceber a VERDADEIRA ORIGEM DAS COISAS.
A Cinderella afinal não tinha sapatos de cristal, mas na verdade nem que fossem de ouro como raio conseguiria ela andar com aquilo? Quanto mais dançar! Não teve sorte esta rapariga, mas na verdade também foi o mesmo com a Rapunzel… e não esqueçamos a Capuchinho Vermelho, o destino das crianças ludibriadas pelo Flautista de Hamelin, e, tal como a Branca de Neve, não teve grande sorte com a parelha de pais que lhe saiu na rifa.

Até ao próximo artigo e não se esqueça de partilhar e comentar.
Quem discute e partilha conhecimento faz um serviço louvável de crescimento social!

Mas não acredite em nada que leu…
Investigue!

[CONTRA FACTOS…]

Uma rubrica escrita em tom de crónica mordaz baseada em factos que pretendem oferecer uma visão mais realista sobre a verdade das coisas. Na era da informação a ignorância é uma escolha!

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