Logo após o dia 8 de Dezembro, milhões de pessoas fazem o presépio nas suas casas, colocando pequenas e coloridas imagens. A maioria delas diz respeito à adoração do menino Jesus. O pastor que oferece um cordeiro, o criador de gansos que dá a melhor ave, a lavadeira que presenteia as mais brancas fraldas, o pescador que doa os maiores e saborosos peixes, o moleiro que brinda o Deus menino com a mais fina farinha… E os três Reis Magos que, a pé ou montados em camelos, oferecem ouro, incenso e mirra. Isto depois de terem palmilhado centenas de quilómetros, tendo como guia uma brilhante estrela… Quem eram estes reis, de onde vieram, e quem os informou do nascimento de Jesus?
A estrela, conta o evangelho, precedia-os e parou sobre o estábulo onde estava o menino Jesus. “E vendo a estrela, alegraram-se eles com grande e intenso júbilo” (Mt 2, 10).” Os Magos ofereceram três presentes ao menino Jesus: ouro, incenso e mirra, cujo significado e simbolismo espiritual é, juntamente com a própria visitação dos magos, ser um resumo do evangelho e da fé cristã, embora existam outras especulações respeito do significado das dádivas dadas por eles. O ouro pode representar a realeza (além de providência divina para sua futura fuga ao Egipto, quando Herodes mandaria matar todos os meninos até dois anos de idade de Belém). O incenso pode representar a fé, pois o incenso é usado nos templos para simbolizar a oração que chega a Deus assim como a fumaça sobre ao céu (Salmos 141:2). A mirra, resina antiséptica usada em embalsamentos desde o Egipto antigo, remete-nos ao género de morte de Jesus, o martírio, sendo que um composto de mirra e aloés foi usado no embalsamento de Jesus (João 19: 39 e 40).
“Entrando na casa, viram o menino (Jesus), com Maria sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra.” (Mt 2, 11).
“Sendo por divina advertência prevenidos em sonho a não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra” (Mt 2, 12)
Devemos aos Magos a tradição de trocar presentes no Natal. Dos seus presentes dos Magos surgiu essa tradição em celebração do nascimento de Jesus. Em diversos países a principal troca de presentes é feita não no Natal, mas no dia 6 de Janeiro, e os pais muitas vezes fantasiam-se de reis magos.
A melhor descrição dos reis magos foi feita por São Beda, o Venerável (673-735), que no seu tratado Excerpta et Colletanea assim relata: Melchior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltazar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz.
Quanto aos seus nomes, Gaspar significa Aquele que vai inspecionar, Melchior quer dizer: Meu Rei é Luz, e Baltazar traduz-se por Deus manifesta o Rei. Como se pretendia dizer que representavam os reis de todo o mundo, representando as três raças humanas existentes, em idades diferentes. Assim, Melchior entregou-Lhe ouro em reconhecimento da realeza; Gaspar, incenso em reconhecimento da divindade; e Baltazar, mirra em reconhecimento da humanidade. A exegese vê na chegada dos reis magos o cumprimento a profecia contida no livro dos Salmos (Sl. 71, 11): Os reis de toda a terra hão de adorá-Lo.
Os Magos foram considerados entre os Medos, Persas e Caldeus, uma classe de sábios, eruditos, filósofos, astrólogos e sacerdotes, detentores de muitos e variados conhecimentos. Em cerimónias de grande aparato, pela beleza das vestes e outros artifícios, alguns dos Magos recorriam a rituais de fogo, nos quais, com palavras mágicas e fórmulas secretas, invocavam o deus da guerra Ahura Mazda. Nessas alturas sacrificavam bois, distribuindo por todos os participantes o sangue dos animais mortos misturado com uma bebida fermentada chamada Haoma. Acreditavam que isso fortalecia a força vital do público e que lhes preparava o caminho da imortalidade, aproximando-os mais da essência divina. Contam os escritos apócrifos (que mais não são do que as narrativas da vida de Cristo que a igreja não considerou válidas) que quem foi ao encontro do Deus menino foram discípulos de um astrólogo de nome Zoroastro que viveu entre 630 e 540 antes de Cristo. Uma clara evidência de que os três Magos acompanhados de uma comitiva de nove homens nada tinham de sangue real, mas simplesmente um grande conhecimento esotérico, eventualmente registado em pergaminhos e papiros. Poucas são as referências a estes personagens, sendo os seus nomes e origem na tradição oral e popular as mais diversas, e por isso contraditórias, nos escassos e duvidosos documentos históricos.
No século XIII S. Francisco de Assis idealizou o presépio, apresentando-o com pequenas e coloridas imagens de barro para alegria da pequenada, e não só. Com o decorrer dos séculos, outras características foram sendo atribuídas a cada um dos três magos. No século XV, e sem nenhuma base histórica, decidiu-se que Baltazar teria 20 anos quando se pôs a caminho de Belém, que Gaspar teria 40 e Belchior 60 anos. No século XVI considerou-se que Baltazar era negro ou mouro, ideia que ainda hoje se mantém.
Afirmam os historiadores que os Magos fizeram um trajecto de 1000 a 1200 quilómetros no espaço de um ano. Montados em camelos atravessaram desertos, passaram privações e correram inúmeros perigos, sendo conduzidos por uma estrela que bem poderia ter sido a conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes. Outros estudiosos dizem que foi um cometa na constelação de Capricórnio que conduziu os três representantes das raças bíblicas conhecidas na altura.