Fitoterapia e Princípios Activos
Fitoterapia (do grego therapeia = tratamento e phyton = vegetal) é o estudo das plantas medicinais e suas aplicações na cura das doenças. Surgiu independentemente na maioria dos povos e desenvolveu-se de forma natural em várias partes do mundo; as diferentes regiões, com as suas características peculiares, propiciaram uma diversidade muito grande de plantas para a fitoterapia.
O conhecimento e o uso das plantas com finalidades curativas por parte da população rural e nativa, principalmente nos países latino-americanos, em África, na China e na Índia, onde este conhecimento prevalece, ainda que mesclado com crenças populares, contribuem até hoje para grande parte dos cuidados com a saúde entre estes povos.
Este artigo cobre a fitoterapia, as suas vantagens e riscos.
As vantagens e Riscos da Fitoterapia
Há uma grande quantidade de plantas medicinais, em todas as partes do mundo, utilizadas há milhares de anos para o tratamento de doenças, através de mecanismos na maioria das vezes desconhecidos. O estudo desses mecanismos e o isolamento do princípio activo (a substância ou conjunto delas que é responsável pelos efeitos terapêuticos) da planta é uma das principais prioridades da farmacologia.
Enquanto o princípio activo não é isolado, as plantas medicinais são utilizadas de forma caseira, principalmente através de chás, ultradiluições, ou de forma industrializada, com extrato homogêneo da planta.
Ao contrário da crença popular, o uso de plantas medicinais não é isento de risco. O uso inadequado dos compostos fitoterapêuticos pode ter uma série de efeitos colaterais, como reacções alérgicas e efeitos tóxicos graves em vários órgãos. Além disso, a automedicação é um grande problema, porque muitas pessoas utilizam plantas que crescem nos próprios quintais ou colhem-nas em terrenos baldios ou florestas, desconhecendo que a quantidade de princípios activos que elas contêm pode variar de acordo com a idade da planta, a época da colheita, o tipo de solo, a parte utilizada e as condições de arma-zenagem. Por exemplo, as plantas que crescem muito perto das auto-estradas apresentam concentrações elevadas de metais como chumbo, zinco e alumínio, cujos efeitos podem ser nocivos. As medicações à base de plantas podem ser preparadas e usadas como cataplasmas, xaropes, unguentos, infusões, compressas, banhos e cápsulas. Além do princípio activo terapêutico, a mesma planta pode conter outras substâncias tóxicas, a grande quantidade de substâncias diferentes pode induzir a reacção alérgica, pode haver contaminação por agrotóxicos ou por metais pesados e interação com outras medicações, levando a danos à saúde e até predisposição para o cancro. Além disso, todo princípio activo terapêutico é benéfico dentro de um intervalo de quantidade – abaixo dessa quantidade, é inócuo e acima disso passa a ser tóxico. A variação de concentração do princípio activo em chás pode ser muito grande, tornando praticamente impossível atingir a faixa terapêutica com segurança em algumas plantas aonde essa faixa é mais estreita.
Já na forma industrializada, o risco de contaminações pode ser reduzido através do controle de qualidade da matéria prima, mas mesmo assim a variação na concentração do princípio activo em cápsulas pode variar até em 100%. Nas ultradiluições, como na homeopatia, aonde não há virtualmente o princípio activo na apresentação final, não há nenhum desses riscos anteriores, mas a eficácia desse tratamento é muitas vezes questionada.
À medida em que os princípios activos, são descobertos, os mesmos são isolados, refinados de modo a eliminar agentes tóxicos e contaminações e as doses terapêutica e tóxica são bem estabelecidas, de modo a determinar de forma precisa a faixa terapêutica e as interações desse fármaco com os demais.
No entanto, o isolamento e refinagem de princípios activos também não é isento de riscos. Primeiro porque pretende substituir o conhecimento popular tradicional e livre, testado há milénios, por resultados provindos de algumas pesquisas analítico-científicas que muitas vezes são antagónicas e barbaramente testadas em animais. Segundo, porque a simples ideia de extrair princípios activos despreza os muitos outros elementos existentes na planta que, em estado natural, mantém as suas exactas proporções. Assim sendo, o uso de fitoterápicos de laboratório poderia introduzir novos efeitos colaterais ou adversos inesperados, devidos à ausência de sinergismo ou antagonismo parcial entre mais de um princípio activo que apenas seriam encontrados na planta.
O Exemplo da Fitoterapia Chinesa
A fitoterapia chinesa é uma das mais expressivas, por manter a tradição ao longo do tempo, catalogar e desenvolver o estudo das plantas, aproveitando a moderna tecnologia. Os primeiros registos datam aproximadamente do ano 3000 a.C, quando o imperador Cho-Chin-Kei descreveu as propriedades do Ginseng e da Cânfora. A fitoterapia chinesa classifica as plantas em cinco sabores:
- ÁCIDO: relacionado com o elemento madeira e com o fígado;
- AMARGO: relacionado com o elemento fogo e com o coração;
- DOCE: relacionado com o elemento terra, com o baço e o pâncreas;
- PICANTE: relacionado com o elemento metal e com os pulmões;
- SALGADO: relacionado com o elemento água e com os rins.
E em quatro naturezas:
- FRIA (yin);
- QUENTE (yang);
- FRESCA (yin);
- MORNA (yang).
A China é um dos maiores consumidores de medicação fitoterapêutica do mundo. Considera-se fitoterapêutico qualquer composto farmacêutico com efeito farmacológico comprovado. Estamos a falar de extractos, tinturas, pomadas e cápsulas que utilizam como matérias-primas toda a planta ou as suas partes, como folhas, caules, raízes, flores e sementes. O uso adequado desses compostos tem uma série de benefícios para a saúde humana, ajudando no combate a doenças infecciosas, disfunções metabólicas, doenças alérgicas e traumas diversos, desde que as plantas tenham propriedades terapêuticas comprovadas. Em conjunto com as propriedades terapêuticas, tem entre outras vantagens o baixo custo de produção e a disponibilidade e diversidade de plantas, principalmente nos países tropicais, e a cultura relacionada com o seu uso.
Conclusão
A fitoterapia tem recebido uma atenção especial por parte dos governos de vários países membros da OMS, quanto à possibilidade da sua inclusão nos respectivos sistemas de saúde. Trata-se porém de uma tarefa complexa, que envolve diversos profissionais, como médicos para prescrever, farmacêuticos para manipular e agrónomos para planear o cultivo das plantas, além de investimentos em investigação para determinar as propriedades de cada planta, catalogá-las e distribuí-las. Mesmo assim, entre as terapias complementares e alternativas é a modalidade mais bem aceite pela medicina alopática.
É muito importante conhecer cada pormenor da planta a ser utilizada, já que às vezes as diferentes partes de uma mesma planta servem para tratar diferentes males, além de existirem ervas tóxicas e combinações de ervas que não são aconselhadas. Uma sugestão aos leitores que desejam fazer uso da fitoterapia é que se certifiquem, por meio dos serviços de atendimento ao consumidor e dos órgãos competentes, de que a empresa fornecedora faz controlo de qualidade da matéria-prima e de que é obtida por meio de cultivo específico. Além disso, deve consultar um bom fitoterapeuta, pois, mesmo sendo natural, a medicação fitoterapêutica não é inócua.