História do Judaísmo

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images_2A história do judaísmo é a história de como se desenvolveu a religião principal da comunidade judaica que, ainda que não seja unificada, contém princípios básicos que a distingue de outras religiões. De acordo com a visão religiosa o judaísmo é uma religião ordenada pelo Criador através de um pacto eterno com o patriarca Abraão e sua descendência. Já os estudiosos crêem que o judaísmo seja fruto da fusão e evolução de mitologias e costumes tribais da região do Levante unificadas posteriormente mediante a consciência de um nacionalismo judaico.

 

Mosaísmo e crenças israelitas pré-exílio

Ainda que o judaísmo só vá ser chamado como tal apenas após o retorno do Cativeiro em Babilónia , de acordo com a tradição judaico-cristã a origem do judaísmo estaria associada ao chamado de Abraão à promessa de YHWH. Abraão, originário de Ur (actualmente Iraque, antiga Caldeia), teria sido um defensor do monoteísmo em um mundo de idolatria, e pela sua fidelidade à YHWH teria sido recompensado com a promessa de que teria um filho, Isaaq do qual levantaria um povo que herdaria a Terra da promessa. Abraão é chamado de primeiro hebreu (do hebraico עִבְרִי ivrit aquele que vem do outro lado), e passa a viver uma vida nómada entre os povos de Canaã.

Abraão e os três Anjos as portas do purgatório segundo descrição de Dante Alighieri em 1250De acordo com a Bíblia, YHWH não seria apenas o Senhor de Israel, mas sim o Princípio Uno que criou o mundo, e que já havia se revelado a outros justos antes de Abraão. Mas com Abraão inicia-se um pacto de obediência, que deveria ser seguido por todos os seus descendentes se quisessem usufruir das bençãos de YHWH. Alguns rituais tribais são seguidos pelos membros da família de Abraão que depois serão incorporados à legislação religiosa judaica.

Alguns estudiosos, no entanto, crêem que YHWH trata-se de uma divindade tribal, que apenas posteriormente será elevada ao status de Deus único. A questão é que com a libertação dos descendentes de Israel da terra do Egipto pelas mãos de Moisés será organizado pela primeira vez o culto à esta Divindade. Ao contrário de outras religiões antropomórficas, YHWH é tido como uma figura transcendente, toda-poderosa, ilimitada, que influencia a sociedade humana e revela aos israelitas sua Torá, que consistiriam em mandamentos de como ter uma vida justa diante de YHWH. A religião mosaica pré-judaísmo só atingirá sua maturação com o início da monarquia israelita e sua subsequente divisão em dois reinos: Yehuda (Judá) e Yisrael (Israel). Esta divisão marcará uma separação entre os rituais religiosos dos reinos do norte e do sul que permanecem, até hoje, entre o judaísmo e o judaísmo samaritano .

No entanto, a visão histórica e bíblica mostram que esta religião mosaica não era única e exclusiva. Durante todo o período pré-exílio as fontes informam-nos que os israelitas serviam diversas outras divindades, dos quais os mais proeminente era Baal. Enquanto a maioria dos religiosos aceita que a mistura entre os israelitas e os cananitas após a conquista de Canaã tenha corrompido a religião israelita, a maioria dos estudiosos prefere aceitar que o mosaismo era apenas mais uma das diversas crenças entre as tribos israelitas, e que só virá a se afirmar com os profetas e com o exílio.

A hierarquia e os rituais de culto mosaico serão firmemente estabelecidos com a monarquia, quando serão elaboradas as regras de sacerdócio e estabelecidos os padrões do culto com a contrução do Templo de Jerusalém. Este novo local de culto, substituto do antigo Tabernáculo portátil de Moisés, serviu como centro da religião judaica, ainda que em meio a outros cultos estrangeiros.

Exílio na Babilónia e o início da Diáspora

Um dos elementos fortes da religião pré-judaísmo é o surgimento dos profetas, homens de diversas camadas sociais que pregariam e anunciariam profecias da parte de D-us. Sua pregação anunciando os castigos da desobediência para com D-us encontraram eco com a destruição de Israel em 722 a.C. e com a conquista de Judá pelos babilónios em 586 a.C..

Com a dispersão dos reinos israelitas, muitos judeus assimilaram-se aos povos para o qual foram dispersados. Mas as comunidades israelitas remanescentes desenvolveram sua cultura e religião, criando o que temos hoje como Judaísmo. O fortalecimento da comunidade e a descentralização do culto (através da criação das sinagogas), além do estabelecimento de um conjunto de mandamentos que deveria ser aprendidos pelos membros da comunidade e obedecidos em qualquer lugar em que vivessem, aliaram-se à esperança no restabelecimento novamente na Terra Prometida, dando aos judeus uma consciência messiânica. No entanto, com a libertação do retorno dos judeus para a Judeia, poucas comunidades retornaram para a Judeia.

O período do Segundo Templo

Com o retorno de algumas comunidades judaicas para a Judeia, uma renovação religiosa levou a diversos eventos que seriam fundamentais para o surgimento do judaísmo como uma religião mundial. Entre estes eventos podemos mencionar a unificação das doutrinas mosaicas, o estabelecimento de um cânone das Escrituras, a reconstrução do Templo de Jerusalém e a adopção da noção do “povo judeu” como povo escolhido e através do qual seria redimida toda a humanidade.

A comunidade judaica da Judeia cresceu com relativa autonomia sob o domínio persa, mas a história judaica tomará importância com a conquista da Palestina por Alexandre Magno em 332 a.C.. Com a morte de Alexandre, o seu império foi dividido entre seus generais, e a Judeia foi dominada pelos Ptolomeus e depois pelos Selêucidas, contra os quais os judeus moveram revoltas que culminaram em sua independência. Com a independência e o domínio dos Macabeus como reis e sacerdotes, surgem as diversas ramificações do judaísmo da época do Segundo Templo: os fariseus, os saduceus e os essênios. As diversas polémicas entre as várias divisões do judaísmo levaram à conquista da Judeia pelo Império romano (63 a.C.). Já o domínio romano sobre a Judeia foi, em todo, um período conturbado. Principalmente em relação aos diversos governadores e reis impostos sobre Roma, o que levou à Revolta judaica que culminou na destruição do Segundo Templo e de Jerusalém em 70 d.C. Muitas revoltas judaicas explodiram em todo o Império romano, que levaram à Segunda revolta judaica sob o comando de Shimmon Bar-Kosiva e do rabino Akiva que, após seu fracasso, em 135, levou o estado judeu à extinção. Depois disso, ele voltou a existir apenas em 1948.

As seitas da época do Segundo Templo e posterior desenvolvimento do judaísmo

Por volta do primeiro século d.C. havia várias grandes seitas em disputa da liderança entre os judeus e, em geral, todas elas procuravam, de forma diversa, uma salvação messiânica em termos de autonomia nacional dentro do Império Romano: os fariseus, os saduceus, os zelotas e os essênios. Entre estes grupos,os fariseus obtiveram grande influência dentro do judaísmo, já que após a destruição do Templo de Jerusalém, a influência dos saduceus diminuiu, enquanto os fariseus, que controlavam a maior parte das sinagogas, continuaram a promover sua visão de judaísmo, que originará o judaísmo rabínico. Os judeus rabínicos codificaram suas tradições orais nas obras conhecidas como Talmudes.

O ramo dos saduceus dividiu-se em diversos pequenos grupos, que no século VIII adoptaram a rejeição dos saduceus pela lei oral dos fariseus / rabinos registada na Mishná (e desenvolvida por rabinos mais recentes nos dois Talmudes), pretendendo confiar apenas no Tanakh. Estes judeus criaram o judaísmo caraíta, que ainda existe hoje em dia embora o seu número de seguidores seja muito menor número que o do judaísmo rabínico. Os judeus rabínicos defendem que os caraítas são judeus, mas que a sua religião é uma forma de judaísmo incompleta e errónea. Os caraítas defendem que os rabinitas são idólatras e necessitam retornar às escrituras originais.

Os samaritanos continuaram a professar sua forma de judaísmo, e continuam a existir até os dias de hoje. Ao longo do tempo, os judeus também se foram diferenciando em grupos étnicos distintos: os asquenazitas – (da Europa de Leste e da Rússia), os sefarditas (de Espanha, Portugal e do Norte de África), os Judeus do Iémene, da extremidade sul da península Arábica e diversos outros grupos. Esta divisão é cultural e não se baseia em qualquer disputa doutrinária, mas acabou por levar a diferentes peculiaridades na visão de cada comunidade sobre a prática do judaísmo .

Judaísmo na Idade Média

O cristianismo teria surgido como uma ramificação messiânica do judaísmo no primeiro século d.C. Após o cisma que levou à separação entre judaísmo e cristianismo, o cristianismo desenvolveu-se separadamente, e também foi perseguido pelo Império romano. Com a adopção do cristianismo como religião do império no século IV, a tendência a querer erradicar o paganismo e a visão do judaísmo como uma religião que teria desprezado Jesus Cristo, levou a um constante choque entre as duas religiões, onde a política de converter judeus à força levava à expulsão, espoliação e morte, caso não fosse aceita a conversão. Esta visão anti-judaica era compartilhada tanto pelo catolicismo, quanto por seitas protestantes surgidas no século XVI.

Os judeus e diversas minorias tornaram-se vítimas de diversas acusações e perseguições por parte dos cristãos. A conversão ao judaísmo foi proibida pela Igreja, e as comunidades judaicas foram relegadas à marginalidade em diversas nações ou expulsas. O judaísmo tornou-se então uma forma religiosa de resistência à dominação imposta pela Igreja, desenvolvendo algumas das doutrinas exclusivistas de muitas tradições judaicas actuais. Com o surgimento do Islão no século 7 d.C. e sua rápida ascensão entre diversas nações, inicia-se a relação deste com o judaísmo, caracterizado por períodos de perseguição e outros de paz, no qual se deve enfatizar a Era de Ouro no judaísmo na Espanha mulçumana.

O desenvolvimento do judaísmo hasídico

O judaísmo hasídico foi fundado por Israel ben Eliezer (1700-1760), também conhecido por Ba’al Shem Tov, ou pelo Besht. Os seus discípulos atraíram muitos seguidores, e eles próprios estabeleceram numerosas seitas hasídicas na Europa. O judaísmo hasídico acabou por se transformar no modo de vida de muitos judeus na Europa, e chegou aos Estados Unidos durante as grandes vagas de emigração judaica na década de 1880.

Os judeus europeus que rejeitavam o movimento hasídico eram chamados pelos hasidim de mitnagdim, (literalmente os contrários, oponentes). Alguns dos motivos para a rejeição do judaísmo hasídico radicavam-se na exuberância opressiva da prece hasídica – nas suas imputações não-tradicionais de que os seus líderes eram infalíveis e alegadamente operavam milagres, e na preocupação com a possibilidade de o movimento se transformar numa seita messiânica. Desde então, todas as seitas do judaísmo hasídico foram absorvidas pela corrente principal do judaísmo ortodoxo, e em particular pelo judaísmo ultra-ortodoxo.

O desenvolvimento das seitas modernas em resposta ao Iluminismo

Nos finais do século XVIII, a Europa foi varrida por um conjunto de movimentos intelectuais, sociais e políticos conhecidos pelo nome de Iluminismo. O judaísmo desenvolveu-se em várias seitas distintas em resposta a este fenómeno sem precedentes: o judaísmo reformista e o judaísmo liberal, muitas formas de judaísmo ortodoxo e judaísmo conservador e ainda uma certa quantidade de grupos menores.

Judaísmo na actualidade

Na maior parte das nações ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e a África do Sul, muitos judeus secularizados deixaram há muito de participar nos deveres religiosos. Muitos deles lembram-se de ter tido avôs religiosos, mas cresceram em lares onde a educação e observância judaicas já não eram uma prioridade. Desenvolveram sentimentos ambivalentes no que toca aos seus deveres religiosos. Por um lado, tendem a agarrar-se às suas tradições por razões de identidade, mas por outro lado, as influências da mentalidade ocidental, vida quotidiana e pressões sociais tendem a afastá-los do judaísmo. Estudos recentes feitos em judeus americanos indicam que muitas pessoas que se identificam como de herança judaica já não se identificam enquanto membros da religião conhecida como judaísmo. As várias seitas judaicas nos EUA e no Canadá encaram este facto como uma situação de crise, e têm sérias preocupações com as crescentes taxas de casamentos mistos e assimilação entre a comunidade judaica. Uma vez que os judeus americanos têm vindo a casar mais tarde do que acontecia antigamente, têm vindo a ter menos filhos, e a taxa de nascimentos entre os judeus americanos desceu de mais de 2.0 para 1.7 (a taxa de substituição é de 2.1).

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