A não ser que queira considerar tudo isto como uma insurgência do ateísmo o resumo seguinte é do comunicado oficial de imprensa da Université de Montréal:
O mito do altruísmo e generosidade à volta de Madre Teresa é desmontado pelo estudo de Serge Larivée e Genevieve Chenard do Departamento de Psicoeducação da Universidade de Montréal e Carole Sénéchal da Universidade de Ottawa e Faculdade de Educação. O estudo publicado na edição de Março no jornal Estudos de Religião e Ciências Religiosas (…)
Como resultado os 3 investigadores colectaram 502 documentos na vida e obra de Madre Teresa e após eliminarem os duplicados consultaram os 287 documentos para fazerem a sua análise, representando 96% da literatura sobre a fundadora da Ordem dos Missionários da Caridade. Factos desmontam o mito de Madre Teresa.
Neste estudo, Serge Larivée e seus colegas citam ainda uma série de problemas não analisados pelo Vaticano aquando o processo de beatificação de Madre Teresa tal como a forma dúbia de tratar dos doentes, os contactos políticos questionáveis, a gestão danosa das enormes somas de dinheiro doado e as suas visões exageradamente dogmáticas sobre o aborto, os contraceptivos e o divórcio.
O estudo lida com 3 das principais acusações a Madre Teresa de Calcutá e a sua “equipa”, o excertos abaixo são retirados do mencionado press release):
1. Ela estava apaixonada pelo sofrimento e simplesmente não prestava os devidos cuidados aos doentes que procuravam em vão apoio médico
Na altura da sua morte, a Madre Teresa tinha já 517 missões estabelecidas que recebiam os pobres e os doentes em mais de 100 países. As missões são baptizadas de ‘Casas para os Moribundos’ por médicos que visitavam as instalações. Dois terços das pessoas recebidas por estas missões esperavam encontrar apoio médico e tratamento, enquanto um terço apenas se deitava à espera da morte sem receber qualquer cuidado. Os médicos relatam falhas de higiene significativas, condições adversas e falta de qualquer tipo de cuidado médico aos ‘internados’, comida ou analgésicos. O problema nunca foi falta de dinheiro – a Fundação criada por Madre Teresa tinha centenas de milhões de dólares – mas sim uma concepção de sofrimento e morte [quase sádica]: “Existe algo de muito belo em observar os pobres aceitarem o sofrimento, tal como Jesus fez. O mundo ganha muito com o seu sofrimento”, foi a resposta dela [Madre Teresa] às críticas do jornalista Christopher Hitchens. No entanto, quando a própria Madre Teresa precisou de cuidados paliativos, recebeu-os num moderno hospital americano.
2. Ela geria a ajuda aos outros com punho de ferro, recebeu milhões de doações inclusive de ditadores pelo mundo fora
A Madre Teresa era muito generosa nas suas orações mas bastante comedida no gasto dos milhões da sua fundação quando se tratava de aliviar sofrimento de qualquer espécie. Durante várias cheias na India ou na explosão da fábrica de pesticidas de Bhopal, ela ofereceu orações e medalhas da Virgem Maria, mas nenhuma ajuda monetária. Por outro lado, não tinha qualquer problema em aceitar [prémios (como a Legion of Honour)] e doações de [ditadores (como Duvalier do Haiti)]. Milhões de dólares foram transferidos para as várias contas bancárias da MCO [Missões de Madre Teresa], mas a maioria das contas foram mantidas em segredo, diz Larivée: “Dado o gasto parciomonioso da gestão de Madre Teresa, podemos bem perguntar onde foram parar os milhões de dólares que estavam destinados aos mais pobres dos pobres?”
3. Ela foi deliberadamente promovida pelo jornalista da BBC Malcolm Meggeridge (simpatizante da luta contra o aborto) e a sua beatificação foi baseada em falsas premissas
(…) Em 1969, [Muggeridge] fez um documentário elogioso da missionária promovendo-a e atribuindo-lhe o “primeiro milagre fotográfico”, que deveria ter sido entregue [quando muito] ao novo material experimental da Kodak. Depois disto, Madre Teresa de Calcutá viajou por todo o mundo recebendo inúmeros prémios, incluindo o Nobel da Paz. No seu discurso de aceitação [do Nobel], falando sobre as mulheres da Bósnia que eram violadas pelos Sérvios e procuravam o aborto ela firmou: “Sinto que o maior destruidor da paz dos dias de hoje é o aborto, por ser uma guerra directa, um assassínio feito pela própria mãe.”
(…) A seguir à sua morte [da Madre Teresa], o Vaticano decidiu dar os habituais cinco anos para abrir o processo de beatificação. O milagre atribuído a Madre Teresa foi o de cura da indiana Monica Besra, que sofria de dores abdominais intensas. A mulher testemunhou que se curou por ter recebido uma medalha abençoada por Madre Teresa e colocada sobre o seu abdomen. Os médicos demonstram o contrário: o quisto nos ovários e a tuberculose que a mulher tinha foram curados pelos medicamentos que eles lhe deram [durante mais de um ano]. O Vaticano, mesmo assim, concluiu que se tratava de um milagre. A popularidade de Madre Teresa era tal que se tornou intocável pela população, que já a declarara santa. “O que podia ser melhor do que a beatificação seguida de canonização deste modelo da igreja para inspirar os fiéis especialmente quando as igrejas se encontravam mais vazias e a autoridade romana estava em declínio?”, pergunta Larivée e a sua equipa.
São acusações graves baseadas em documentos reais e, muitos, da própria Madre Teresa, mas que vêm apoiar a opinião e exposição anterior de C.Hitchens. Todavia, no final do comunicado a Universidade (presume-se os investigadores) oferecem uma palavra apaziguadora principalmente a quem se possa sentir defraudado com estas revelações:
Mesmo com a forma dúbia de tratar dos doentes glorificando o seu sofrimento em vez de o aliviar, Serge Larivée e seus colegas apontam o efeito positivo do mito de Madre Teresa: “Se a imagem extraordinária de Madre Teresa alimentou a imaginação colectiva encorajando as iniciativas humanitárias que são tratadas de forma genuína para com aqueles que são avassalados pela pobreza, temos apenas que agradecer. É certo que ela inspirou muitos trabalhadores voluntários e humanitários cujas acções aliviaram verdadeiramente o sofrimento dos proscritos e tentaram controlar as causas da pobreza e isolamento sem serem bajulados pelos media. De qualquer forma a cobertura dada a Madre Teresa deveria ter sido um pouco mais rigorosa.”
Fica agora a seu cargo a análise do excerto do livro mencionado (ou do livro por completo se assim preferir), a análise cuidada do documentário mencionado e de toda esta revelação feita pela Universidade de Montréal… deixamos apenas o alerta de que não devemos receber a informação dos mass media como nos dão e que uma pequena investigação muitas vezes desmonta mitos complicados!