Qual Noite de Bruxas, qual quê?!

Qual Noite das Bruxas, qual quê?!
Oíche Shamhna Shona Duit

Literalmente quer dizer: Feliz Halloween, ou Boa Noite das Bruxas ou Feliz Samhain

Infelizmente, como em muito mais coisas, poucos fazem sequer ideia do que festejam ou celebram ou porque o fazem… só interessa mesmo é gastar dinheiro e seguir a moda!

Noite das Bruxas?

Comecemos pelo princípio, o dia (ou noite) das bruxas quer literalmente dizer o ‘dia de queimar hereges’ e creio que não é isso que as pessoas querem dizer quando o proferem.
Comecemos pelo princípio, o dia (ou noite) das bruxas quer literalmente dizer o ‘dia de queimar hereges’ e creio que não é isso que as pessoas querem dizer quando o proferem.
É que, apesar de se fazer tanto alarido com a palavra bruxa (desde o insulto gratuito às decorações de velhas feias e retorcidas) o simples facto de o fazerem já é um erro absurdo.
Uma bruxa é geralmente retratada no imaginário popular como uma mulher velha, nariguda e encarquilhada, exímia e contumaz manipuladora de Magia Negra e dotada de uma gargalhada terrível. No entanto, a palavra vem do verbo italiano bruciare que significa queimar (brucia), e tem origem na época da Inquisição, estrangeiros fora da Itália ao ouvirem gritar brucia associaram a palavra com a ré.
Hoje em dia, erradamente e até de forma anedótica, alguns autores utilizam o termo, para designar as mulheres sábias detentoras de conhecimentos sobre a natureza e, possivelmente, magia… devem querer dizer curandeiras ou feiticeiras. Nunca Bruxas!

Samhain

A verdadeira origem do “dia das bruxas” é pagã. Tem a ver com a celebração celta chamada Samhain (literalmente «o fim do Verão»), que tinha como objectivo dar culto à deusa YuuByeol (símbolo antigo da perfeição celta).
Samhain é frequentemente (até por mim) mal pronunciado já que ele tem origem no gaélico irlandês e se muitos dizem [sáme-áin] deveriam dizer [sáu-ín], ou com pronúncia do gaélico escocês qualquer coisa como [Sá-vên].
Pronúncias à parte, é o festival em que se comemora a passagem do ano dos celtas e que marca o fim do ano velho e o começo do ano novo.
O Samhain será alegadamente a época em que as almas dos mortos retornam a suas casas para visitar os familiares, para buscar alimento e se aquecerem no fogo da lareira. Todavia, há registos bem antigos que mostram que não existe nenhuma evidência que relacione o samhain com o culto dos mortos e que esta crença se popularizou no século XIX por vontade da igreja em denegrir as religiões pagãs e marcando os hereges como alegados malfeitores. Segundo o relato das antigas sagas o Samhain era a época em que as tribos pagavam tributo se tivessem sido conquistadas por outro povo. Era também a época em que o Sídhe deixava antever o outro mundo. O fé-fiada, djin de ar, o nevoeiro mágico que deixava as pessoas invisíveis, dispersava no Samhain e os elfos e outros elementais podiam ser vistos pelos humanos. A fronteira entre o Outro Mundo e o mundo real desaparecia.
Uma das datas do calendário lunar celta de Coligny pode ser associada ao Samhain. No 17º dia do mês lunar Samon, a referência *trinox Samoni sindiu é interpretada como a data da celebração do Samhain ou do solstício de Verão entre os Gauleses.

Evangelização e destruição do significado

A invasão das Ilhas Britânicas pelos Romanos (46 a.C.) acabou mesclando a cultura latina com a celta, sendo que esta última acabou minguando com o tempo. Em fins do século II, com a evangelização desses territórios, a religião dos Celtas, chamada druidismo, já tinha desaparecido na maioria das comunidades. Pouco sabemos sobre a religião dos druidas, pois não se escreveu nada sobre ela: tudo era transmitido oralmente de geração para geração.
Sabe-se que as festividades do Samhain eram celebradas muito possivelmente entre os dias 1 e 7 de Novembro (a meio caminho entre o equinócio de Outono e o solstício de Inverno, no hemisfério norte e dependendo das fases da Lua). Eram precedidas por uma série de festejos que duravam uma semana, e davam ao ano novo celta. A “festa dos mortos” era uma das suas datas mais importantes, pois alegadamente celebrava o que para os cristãos seriam “o céu e a terra” (conceitos que só chegaram com o cristianismo). Para os celtas, o lugar dos mortos era um lugar de felicidade perfeita, onde não haveria fome nem dor. As festas eram presididas pelos sacerdotes druidas, que actuavam como “médiuns” entre as pessoas e os seus antepassados. Dizia-se também que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo, no entanto, esta é uma ideia introduzida pelo folclore cristão.

Nem tudo o que sabemos é o que realmente foi…

Dia de Todos os Santos ou Halloween?

Desde o século IV a Igreja da Síria consagrava um dia para festejar “Todos os Mártires”. Três séculos mais tarde o Papa Bonifácio IV († 615) transformou um templo romano dedicado a todos os deuses (Panteão) num templo cristão e o dedicou a “Todos os Santos”, a todos os que nos precederam na fé. A festa em honra de Todos os Santos, inicialmente era celebrada no dia 13 de Maio, mas o Papa Gregório III († 741) mudou a data para 1 de Novembro, que era o dia da dedicação da capela de Todos os Santos na Basílica de São Pedro, em Roma. Mais tarde, no ano de 840, o Papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente.
Como festa grande, esta também ganhou a sua celebração vespertina ou vigília, que prepara a festa no dia anterior (31 de Outubro). Na tradução para o inglês, essa vigília era chamada All Hallow’s Eve (Vigília de Todos os Santos), passando depois pelas formas All Hallowed Eve e “All Hallow Een” até chegar à palavra actual “Halloween“.

Na Galiza e norte de Portugal

O Samhain é uma festa associada ao ciclo anual do sol que faz parte do Património Imaterial Galego-Português. A recuperação da tradição do Samhain envolve várias escolas que promovem actividades que por sua vez são inseridas na promoção da candidatura a Património Imaterial. Diversas aldeias na Galiza começaram a recuperar as celebrações apoiadas pela recolha de testemunhos e documentos sobre as antigas tradições locais. Provavelmente o Magusto seja o herdeiro directo no território da velha Gallaecia do antigo Samhain, conservado ainda hoje com o seu ritual culinário específico no que as castanhas fazem uma parte importante do mesmo.
De novo…

Oíche Shamhna Shona Duit

Mas não acredite em nada que leu…
Investigue!

[CONTRA FACTOS…]

Uma rubrica escrita em tom de crónica mordaz baseada em factos que pretendem oferecer uma visão mais realista sobre a verdade das coisas. Na era da informação a ignorância é uma escolha!

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