Rapunzel desmistificada

RAPUNZEL

Olá, eu sou a Rapunzel… sim aquela dos cabelos compridos!

O quê? Que dançava em cima das mesas dos tascos para dar sonhos e queria ir ver as luzes? Não, essa é uma impostora da Disney!


Sou da mesma laia que a Capuchinho Vermelho, a Branca de Neve e o Flautista de Hamelin. É certo que estive presa numa torre e deixei crescer os cabelos dourados como o sol para o meu amor subir à socapa e, ao contrário dos da minha laia, há muita magia em mim. É que nem imaginam. Sou a Rapunzel (também conhecida como Rapôncio) e nasci num famoso conto de fadas, recolhido pelos Irmãos Grimm e publicado pela primeira vez em 1812. Compilado no livro Contos para a Infância e para o Lar, a minha história é uma adaptação do conto de fadas Persinette escrito por Charlotte-Rose de Caumont de La Force e foi publicado originalmente em 1698.

A história narra a minha vida… uma jovem de longos cabelos da cor do ouro, aprisionada no alto de uma torre por uma bruxa vingativa. O meu ápice da história acontece quando um príncipe me encontra na torre e passa a visitar-me secretamente. Oh… e eu gostava, se gostava! E assim reza a história original…

Era uma vez um casal sem filhos que queria muito uma criança, eram vizinhos de uma bruxa muito temida, malvada, ciumenta e poderosa. A esposa, ao fim da gravidez, sentiu um grande desejo por comer rabanetes, variedade de nabos que só cresciam no pomar da feiticeira. Por uma noite, o marido saiu e invadiu o pomar para saciar os desejos da esposa, mas na segunda noite, enquanto escalava a parede para retornar para casa, a malvada bruxa aparece acusando-o de furto. O homem implorou por misericórdia, e a velha mulher concordou em absolvê-lo desde que a criança lhe fosse entregue ao nascer. Desesperado, o homem concordou; uma linda menina nasceu, e foi entregue à bruxa, que a nomeou Rapunzel (fazendo referência, no alemão, aos rabanetes que lhe foram roubados).

Quando Rapunzel alcançou doze anos, a bruxa trancafiou-a numa torre alta, sem portas ou escadas, com apenas uma janela no topo. Quando a bruxa queria subir a torre, mandava que Rapunzel estendesse suas tranças douradas, e ela colocava seu cabelo num gancho de modo que a bruxa pudesse subir por ele.Um dia, um príncipe que cavalgava no bosque próximo ouviu Rapunzel cantando na torre. Extasiado pela voz, foi procurar a menina, e encontrou a torre, mas nenhuma porta. Foi retornando frequentemente, escutando a menina cantar, e um dia avistou uma visita da bruxa, assim aprendendo como subir a torre. Quando a bruxa foi embora, ele pediu que Rapunzel soltasse suas tranças e, ao subir, pediu-a em casamento. Rapunzel concordou. Juntos fizeram um plano: o príncipe viria cada noite (assim evitando a bruxa, que a visitava pelo dia), e trar-lhe-ia seda, que Rapunzel teceria gradualmente numa escada. Como todos os dias, o príncipe acabou por ser apanhado em flagrante delito… ou teria sido deleite?
Na raiva, a bruxa cortou as madeixas de Rapunzel e fez-se passar por ela. Quando o príncipe chegou naquela noite, a bruxa deixou as tranças caírem para transportá-lo para cima. O príncipe percebeu horrorizado que Rapunzel não estava mais ali; a bruxa disse que nunca mais a veria e empurrou-o até os espinhos de baixo, que o cegaram… ou é o que dizem!
Durante meses ele vagueou através das terras desertas do reino. Um dia, Rapunzel começou a cantar com sua bela voz de sempre. O príncipe ouviu-a e encontrou-se com ela num jardim de rosas. Deitando-se no seu colo para descansar da longa jornada. As lágrimas de felicidade de Rapunzel caíram sobre os olhos mortos do príncipe, curando-o da cegueira, e assim a família viveu feliz para sempre… ou isso era o que eles achavam!

Nem tudo o que sabemos é o que realmente foi…
Vamos a FACTOS!

Rapunzel é um conto de origem cristã que data originalmente do terceiro século. Remete-se a um mercador rico da Asia Menor que amava com tal intensidade a sua filha que a proibiu de algum dia ter pretendentes. Para que a proibição sortisse efeito ele prendia-a numa torre sem entradas, além de uma altaneira janela, sempre que ia viajar em negócios. Não existe qualquer indicação de como os cabelos se tornaram um ponto tão importante da história, mas o importante é que ela se converteu ao cristianismo e rezava tão alto à janela que todos de uma aldeia próxima a ouviam. O mercador quando soube arrastou-a perante o procônsul romano que insistiu que a rapariga deveria ser decapitada ou o pai perderia a sua fortuna dado a infidelidade dela perante a religião local. Nos registos é contado que o próprio pai a decapitou, porém acabou por morrer com um relâmpago que lhe fez exactamente o mesmo logo de seguida. A filha foi considerada uma mártir da cristandade, Santa Bárbara, tão reverenciada pela igreja ortodoxa (e não só).

Então e detalhes típicos dos Grimm?

Pois…

Na realidade Rapunzel poderia bem ser o conto de fadas infantil que menos se deveria recomendar a crianças. Os irmãos Grimm foram exímios em fazer rodar toda uma história bizarra à volta de sexo e gravidez. Na realidade, a história publicada em 1812 era de tal forma hardcore que os próprios reconsideraram o conteúdo, publicando uma segunda versão em 1857. Só que a original ainda está disponível e tem contornos de uma bizarria e choque que roçam o atroz.

Para começar a lista, a mãe de Rapunzel tinha desejos de gravidez tão intensos que para os contentar era necessário correr riscos graves como trepar muros de bruxas para roubar vegetais que não eram propriamente para comer. Os Grimm são bastante explícitos quanto ao uso parafílico de rabanetes e afins, mas são ainda mais quando explicam que o pai irracionalmente oferece a criança à bruxa assim que esta nascesse. Portanto, um pai que oferece uma filha a uma velha estranha só porque este lhe roubou rabanetes para a sua mulher os usar de forma menos digna… e a pobre criança ainda é baptizada com o nome da flor da planta!

A história não melhora e a criança aprisionada na torre sem portas é enganada pelo príncipe que lhe sobe as tranças disfarçado de velha. Ela ficou em pânico quando descobriu que era um homem, mas é rapidamente seduzida por ele. Na verdade, o casal não era detentor de grande inteligência e nunca se lembraram de usar as tranças para eles mesmos descerem… talvez porque estivessem bastante ocupados… sim, é disso mesmo que eu estou a falar: sexo!
Na história original, posteriormente alterada pelos próprios Grimm, a bruxa descobre que os encontros se repetem porque a miúda lhe pergunta porque está a engordar tanto… estava grávida! A pobre da rapariga grávida continua com azar na vida é abandonada no deserto pela velha onde, completamente sozinha dá à luz gémeos… mesmo sem saber o que fazer ou como o fazer. Também o rapaz, que era príncipe e vazio de ideias, tem um final macabro nas mãos da bruxa velha que o cega com espinhos de rosas enquanto ele salta da torre em queda livre. Só que ninguém morre assim tão facilmente numa história dos irmãos Grimm, pois não? Cego, magoado e muito deprimido o príncipe deambula sem destino pelo deserto. Todavia, este lá conseguiu ouvir a miúda a cantar para os filhos, que os alimentava e se alimentava sabe-se lá como. Quando se encontram ela chora de alegria agarrada a ele e as suas lágrimas ‘limpam’ a cegueira dos olhos dele. Pouco mais se sabe do que aconteceu à bela rapariga, ao seu amante e aos gémeos… mas se calhar lá conseguiram um raro final feliz às mãos dos macabros irmãos Grimm.

É juntando as peças de um puzzle que se aprende!

Não quero destruir-lhe as suas memórias de infância, mas saber não ocupa lugar e, certamente, hoje já possui clareza de mente, abertura de espírito e vontade de perceber a VERDADEIRA ORIGEM DAS COISAS. É certo que a Rapunzel não viveu uma vida tão nesga (‘gore’) como a Capuchinho Vermelho, nem tão macabra como a das crianças ludibriadas pelo Flautista de Hamelin, mas, tal como a Branca de Neve, não teve grande sorte com a parelha de pais que lhe saiu na rifa.

Até ao próximo artigo e não se esqueça de partilhar e comentar. Quem discute e partilha conhecimento faz um serviço louvável de crescimento social!

Mas não acredite em nada que leu…
Investigue!

[CONTRA FACTOS…]

Uma rubrica escrita em tom de crónica mordaz baseada em factos que pretendem oferecer uma visão mais realista sobre a verdade das coisas. Na era da informação a ignorância é uma escolha!

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