Religião Egípcia
As raízes da religião egípcia encontram-se nas aldeias neolíticas, anteriores à organização do Estado Faraónico. Como a maioria dos povos primitivos, os primeiros egípcios tinham uma atitude de respeito em relação aos fenómenos da natureza – o Sol, a Lua, o Rio Nilo – e às características marcantes dos animais – a ferocidade do leão, a força do crocodilo, etc. As primeiras divindades que surgiram eram quase sempre representadas sob a forma de um animal. Os egípcios veneravam especialmente o Sol: devem ter percebido que a vida depende dele e o adoravam sob vários nomes e diversos cultos.
Neste artigo encontrará a história, a lenda e uma breve descrição da misteriosa Religião do Antigo Egipto.
À medida que foram aprendendo a dominar a natureza, passaram a valorizar as qualidades humanas, e o antropomorfismo – concepção dos deuses sob a forma humana – apareceu na religião egípcia, algum tempo antes do advento da primeira dinastia.
Os egípcios eram politeístas. Cada nomo possuía o seu próprio deus, frequentemente associado a um animal, encaixando atribuições e poderes diferentes. Apenas as cerimónias do culto, executadas pelos altos sacerdotes, eram semelhantes para os diversos deuses. Quando uma cidade se tornava importante politicamente, o deus local tendia a aumentar de prestígio e o seu culto crescia. Assim ocorreu com o deus Ra de Heliópolis, o Ptah de Mênfis, o Hórus-Falcão do Delta, o Amon-Ra de Tebas, o Ibis-Tot de Hermópolis.
A religião influenciava profundamente a vida dos egípcios. Consideravam que os menores detalhes de seu quotidiano e tudo que os cercava das cheias previsíveis do Nilo à morte acidental de um animal dependia inteiramente da disposição dos deuses.
Uma Origem Mística da Religião Egípcia
Para compreendermos a religião do Antigo Egipto, numa aproximação mística, precisamos recuar no tempo, milénios atrás, quando os deuses ainda andavam pela terra e viviam num local que se chamava Atlântida, uma grande Ilha, que se localizava entre a África e as Américas, no Oceano Atlântico.
Como o processo de formação da Terra ainda não havia terminado, os Atlantes testemunharam o nascimento de novas plantas, animais, pássaros e seres rastejantes. Viram também a formação da Lua, quando o “Grande Astro Rubro”, por ocasião de sua passagem, arrancou uma parte do planeta e a atirou ao espaço. Este pedaço do planeta, incandescente como carvão em brasa, ficou em órbita em torno da Terra, preso no campo gravitacional e à noite brilhava como um sol vermelho.
Com o impacto ocorreram muitas transformações no planeta e o solo de Atlântida tornou-se instável. Toth, sabendo que a “Grande Ilha” poderia submergir no oceano, ordenou a emigração das quatro famílias que representavam a população Atlante. Estas famílias eram encabeçadas pelos seguintes casais : Nun e Naunet “Oceano Primordial”, Hehu e Hehut “Eternidade”, Kekui e Kekuit “Escuridão”, Amon e Amaunet “Ar”.
Antes da catástrofe final, os Sábios e Sacerdotes Atlantes, cientes de que os dias daquela civilização estavam contados, partiram de lá, com destino a quatro regiões distintas: a América Central, dando origem a Civilização Maia e a todos os descendentes da Raça Vermelha; para o noroeste da Europa, onde posteriormente na Bretanha, deram origem à Civilização Celta e a todos os descendentes da Raça Branca; para a Ásia onde deram origem à Civilização Chinesa e a todos os descendentes da Raça Amarela e finalmente para o nordeste da África onde deram origem a Civilização Egípcia e a todos os descendentes da Raça Negra.
A família de Amon e Amaunet, acompanhada de Toth e de outros sábios e sacerdotes, chegou ao norte da África por volta do ano 50.000 a. C., conhecido em arqueologia como o período pré-dinástico. Encontraram uma população autóctone primitiva, sobrevivendo da caça e da colecta, que não dominava a agricultura e não domesticava animais. Os nativos ficaram maravilhados com os Mestres Atlantes e estes resolveram então estabelecer-se no delta do Nilo e iniciar o processo de transmissão das artes da agricultura e da civilização.
Estabeleceram as bases da religião egípcia, inspirada na religião atlante, essa religião era essencialmente monoteísta, com a crença em um deus principal criador de todo o universo, sem gênero ou forma, ao qual davam o nome de Amon-Rá ( A luz Oculta ), Atun-Rá ( A fonte e o fim de toda Luz ) ou simplesmente Rá ( A luz de Deus ). Os outros néteres ( deuses ) eram apenas as emanações de Rá em seus vários aspectos.
As questões espirituais estavam intimamente ligadas à ciência e às demais áreas do conhecimento humano. Os Sacerdotes Atlantes adaptaram os seus princípios religiosos às crenças locais, que representavam aspectos da natureza, como o Sol, a Lua, as cheias e vazantes do Nilo, etc. Criaram mitos e lendas para assim perpetuar seus ensinamentos (de entre as quais a mais significativa é a lenda de Ísis e Osíris).
As Crenças
Entre as principais crenças religiosas egípcias, sobressaiu-se a do deus Sol, que foi durante vinte séculos o culto oficial da monarquia faraónica. Ao lado dele, os mitos mais importantes foram os de Osíris, Ísis e Hórus, favoritos da devoção popular. Os cultos do Sol e das demais divindades estavam vinculados à importância da agricultura e das cheias do Nilo, das quais dependia a vida das aldeias. O culto solar, elaborado em Heliópolis ( Cidade do Sol ), reconhecia o Sol – denominado Ra -como divindade suprema e criadora do Universo. Era chamado também de Kopri (sol da manhã), e de Atum (sol da tarde). Esse culto fundiu-se com o de Amon de Tebas, daí Amon-Ra.
A Origem do Tarot
Inicialmente, os Sábios Atlantes, criaram as “Escolas Iniciáticas”, onde os ensinamentos eram transmitidos somente àquelas pessoas que primeiramente passassem por rigorosas provas de coragem e fidelidade.
Os ensinamentos permaneciam velados para a grande massa popular, ainda não suficientemente preparada para aprendê-los. Todavia toda a população egípcia sabia destes mistérios que se relacionavam com a vida depois da morte e de como preparar-se para enfrentá-los corajosamente.
Como os nativos não dominavam a escrita, as instruções eram ministradas através do Medu-Netru (símbolos), que os arqueólogos actuais denominam “hieróglifos”. Os caracteres gráficos falavam directamente ao subconsciente e despertavam a inteligência dormente no íntimo daqueles seres, colocando-os em contacto directo com o Grande Arquiteto dos mundos.
Esses hieróglifos foram gravados por Toth em 78 lâminas de ouro, subdivididas em 22 arcanos (segredos) maiores e 56 arcanos menores, que encerravam todo o conhecimento oculto, compondo uma espécie de livro que recebeu o nome de Tarot, que significa “Rota” ou “Caminho”. Escreveu também o Livro “M-Dwat” ou “O Livro dos Mortos”, também conhecido como “O Livro para sair à Luz”, contendo todas as doutrinas espirituais da antiga religião egípcia.
Os Festivais Religiosos
Para organizar a vida civil e religiosa no Antigo Egipto, os Sacerdotes criaram vários tipos de eventos sagrados chamados festivais, que eram celebrados segundo três calendários: O Calendário Lunar, de 30 dias, dividido em três semanas de 10 dias cada, baseado nas fases da Lua; O Calendário Civil, de 365 dias, baseado no Sol e nas estações do ano que eram apenas três : Akhet ( Inundação ), Pert ( Sementeira ) e Shemu ( Colheita ); O Calendário Sótico, baseado no ciclo da estrela Sótis ( Sírius da constelação do Cão Maior ). Como o ano lunar de 12 meses de 30 dias resultava num ano de 360 dias, ajustaram-no ao ano solar com mais cinco dias, chamados “Epagômenos”, em que se homenageavam os grandes Néteres: Osíris, Hórus, Seth, Ísis e Néftis.Os principais festivais eram os seguintes:
• Festivais dedicados a um Neter ou Nétrit (deus ou deusa ) em particular, homenageando-os por meio da recordação pública de suas vidas míticas.
• Festivais para homenagear os mortos, gerando um sentido de comunidade tribal e valorizando a história ancestral, marcando os ciclos de tempo
• Festivais que iniciavam os ciclos do trabalho agrário de preparar o solo, semear e colher.
A Lenda de Ísis e Osíris
Conta a lenda que Seth com inveja de Osíris, por este ter herdado o reino do pai na terra, engendrou um plano para matá-lo e assim usurpar o poder. Quando Osíris dormia, Seth tirou suas medidas e ajudado por 72 conspiradores, mandou construir um sarcófago com as medidas exactas de Osíris. Organizou um banquete e lançou um desafio, aquele que coubesse no sarcófago levava-o de presente. Todos os deuses entraram e não se ajustaram.
Assim que Osíris entrou no sarcófago, Seth trancou-o e mandou atirá-lo ao rio, a corrente o levou-o até a Fenícia. Ali ficou preso numa planta até fazer parte do caule, que foi usado para construir uma coluna o “Djed”.
Ísis partiu em busca do esposo, e após muitas aventuras, conseguiu regressar ao Egipto com a caixa, que escondeu numa plantação de papiro. Seth descobriu-a e cortou o corpo de Osíris em quatorze pedaços, que espalhou pelo Egipto. Novamente Ísis parte em busca dos despojos do esposo e desta vez ajudada pela irmã Néftis, transformadas em milhafres, encontram todas as partes de Osíris, excepto o órgão genital, que havia sido devorada pelo peixe Oxirincos.
Ísis foi ajudada por Anúbis que embalsamou Osíris, e este tornou-se a primeira múmia do Egipto. Utilizando os seus poderes mágicos, Ísis, conseguiu que Osíris a fecundasse e dessa união nasceu Hórus.
Seth iniciou uma luta pelo poder que envolveu todos os deuses. Por fim o próprio Osíris a partir do outro mundo, ameaçou mandar levantar todos os mortos se não fosse feita a justiça. Por isso, Rá e um tribunal de deuses estabeleceram que a sucessão fosse hereditária, e assim, Hórus pôde reinar.
Dessa maneira o Faraó em vida convertia-se em Hórus e ao morrer identificava-se com Osíris, o soberano do Além, considerando-se igual ao deus.
Os Rituais de Mumificação
A mumificação e os rituais funerários obedeciam regras rígidas, estabelecidas alegadamente pelo próprio Anúbis e duravam 70 dias. Após a retirada dos órgãos internos, os embalsamadores colocavam as vísceras em vasos sagrados chamados “Vasos Canopos”, cada um sob a proteção de um dos quatro filhos de Hórus. Inseti, com cabeça de homem protege o fígado; Hapi com cabeça de babuíno, os pulmões; Duamutef com cabeça de cão o estômago; Kebehsenuf, com cabeça de falcão, os intestinos.
O coração era lacrado no próprio corpo. Os Egípcios consideravam-no como o órgão tanto da inteligência como do sentimento e portanto, seria indispensável na hora do juízo. Somente a alguém com um coração tão leve quanto a pluma da verdade, o deus Osíris permitiria a entrada para a vida eterna. Os Egípcios não davam nenhuma importância ao cérebro. Após extraí-lo através das narinas do morto, os embalsamadores destruíam-no. Depois de secar o cadáver com sal de natrão, lavavam e besuntavam com resinas conservadoras e aromáticas.
Finalmente, envolviam o corpo em centenas de metros de tiras de linho, entre essas tiras eram colocados diversos amuletos que protegiam o morto contra inimigos e demónios do mundo subterrâneo. Antes de a múmia ser colocada no túmulo, um sacerdote funerário celebrava a cerimónia da abertura dos olhos e da boca, a fim de devolver à vida todos os sentidos do morto.
Mito do Juízo Final
A vida eterna começa no túmulo, com uma viagem pelo mundo subterrâneo. Primeiro o ‘Ka” (Força Vital), deixa o corpo, acompanhado após o enterro pelo “Ba” (Alma). Hórus conduz o “Ba” através dos portais de fogo e da serpente até o salão do juízo. Anúbis, pesa o coração do morto, sede de sua consciência, junto com a pena de Maat, ou da verdade. Osíris observa na condição de juiz. Se o coração for mais pesado do que a pluma, Amut, um monstro parte leão, parte crocodilo e parte hipopótamo devora-o, condenando o morto a um coma perpétuo. Se o coração equilibra com a pena da verdade, o “Ba” e o “Ka” reúnem-se para formar um “Akh”, ou espírito, que emerge do mundo dominado pelo Osíris coroado. O “Akh” pode então retornar ao mundo dos vivos e desfrutar de seus prazeres, incluindo o amor de sua esposa e a atenção de seus servos. A vida agora pertence-lhe por toda a eternidade.
Panteão Egípcio
Os deuses do antigo Egipto foram Faraós que reinaram no período pré dinástico. Assim, os mitos foram inspirados em histórias que aconteceram de uma ou outra forma, milhares de anos antes de sua criação. Para a cultura do antigo Egipto o casamento consanguíneo tinha o sentido de complementaridade, unir céu e terra, seco e húmido, por essa razão diversos deuses eram irmãos que se casavam entre si. Osíris foi o primeiro Faraó e, que com o passar do tempo foi divinizado. O seu reinado em vida marcou uma época de prosperidade e ao morrer passou a ser o soberano do reino dos mortos.
Os deuses egípcios eram representados ora sob forma humana, ora sob forma de animais, considerados sagrados. O culto de tais animais era um aspecto importante da religião popular dos egípcios. Os teólogos oficiais afirmam que neles encarnava-se uma parcela das forças espirituais e da personalidade de um ou mais deuses. Deve ser entendido que o “deus” não residia em cada vaca ou em cada crocodilo: o culto era dirigido a um só indivíduo da espécie, escolhido de acordo com determinados sinais e entronizado num recinto especial. Ao morrerem, os animais sagrados eram cuidadosamente mumificados e sepultados em cemitérios exclusivos.
Os Principais Deuses Egípcios
- ATUN, Uma das manifestações do deus sol, especialmente ao entardecer, original de Heliópolis, era representado por um homem de barba amarrada e comprida usando a coroa dupla do faraó e menos frequentemente, como uma serpente usando as duas coroas do Alto e do Baixo Egipto. Era considerado o rei de todos os deuses, aquele que criou o universo. É o mesmo deus Rá que gerou Shu o ar e Tefnut a humidade. Atun e Rá, foram mais tarde unidos ao deus carneiro, de Tebas, Amon e ficou conhecido pelo nome de Amon-Rá.
- AMON, o deus-carneiro de Tebas, rei dos deuses e patrono dos faraós. Senhor dos templos de Luxor e Karnac. Tem por esposa Mut e por filho Khonsu. Passou a ser adorado por volta de 2000 a.C. e traz algumas funções de Rá, sob o nome de Amon-Rê ou Amon-Rá, o criador dos deuses e da ordem divina. Ele é o sol que dá vida ao país. Na época de Ramsés III, Amon tornou-se um título monárquico, o mesmo título que Ptah e Rá. Frequentemente representado como um homem vestido com a túnica real e usando na cabeça duas altas plumas do lado direito, ele manifesta-se, igualmente, sob a forma de um carneiro e, mais raramente, de um ganso.
- RÁ (ou Rê), o criador dos deuses e da ordem divina, recebeu de Nun seu pai (e mãe) o domínio sobre a Terra, mas o mundo não estava completamente acabado. Rá esforçou-se tanto para terminar o trabalho da criação que chorou. Das suas lágrimas, que banharam o solo, surgiram os seres humanos, masculinos e femininos. Eles foram criados como os deuses e os animais e Rá tratou de fazê-los felizes, tudo o que crescia sobre os campos lhes foi dado para que se alimentassem, não deixava faltar o vento fresco, nem o calor do sol, as enchentes ou as vazantes do Nilo. Como era considerado o criador dos homens, os egípcios denominavam-se o “rebanho de Rá”. O deus nacional do Egipto, o maior de todos os deuses, criador do universo e fonte de toda a vida, era o Sol, objecto de adoração em qualquer lugar. A sede do seu culto ficava em Heliópolis, o mais antigo e próspero centro comercial do Baixo Egipto. Na Quinta Dinastia Rá, o Deus-Sol de Heliópolis, tornou-se uma divindade do estado. Foi retratado pela arte egípcia sob muitas formas e denominações e era também representado por um falcão, por um homem com cabeça de falcão ou ainda, mais raramente, por um homem com trajes faraónicas. Quando representado por uma cabeça de falcão estabelecia-se uma identidade com Hórus, outro deus solar adorado em várias partes do país desde tempos remotos.
- SHU, deus do ar e da luz, personificação da atmosfera diurna que sustenta o céu. Sua tarefa é trazer Rá, o deus Sol, seu pai, e o faraó à vida no começo de cada dia. É representado por um homem de barba amarrada usando na cabeça uma pena simples ou quatro longas plumas. É a essência da condição seca, do género masculino, calor, luz e perfeição. Aparece frequentemente nas pinturas, como um homem segurando Nut, a deusa do céu, para separá-la de Geb, o deus da Terra. Com Tefnut, sua esposa, formava o primeiro par de divindades de Heliópolis. Era associado ao Leão.
- TEFNUT, considerada a deusa da humidade vivificante, que espera o sol libertar-se do horizonte leste para recebê-lo e não há seca por onde Tefnut passa. A deusa é irmã e mulher de Shu. É o símbolo das dádivas e da generosidade. Ela é retratada como uma mulher com a cabeça de uma leoa, indicando poder. Shu afasta a fome dos mortos, enquanto Tefnut afasta a sede. Shu e Tefnut são os pais de Geb e Nut.
- NUT, deusa do céu que acolhe os mortos no seu império, é muitas vezes representada sob a forma de uma vaca. Com o seu corpo alongado, coberto por estrelas, forma o arco da abóbada celeste que se estende sobre a terra. É como um abraço da deusa do céu sobre Geb, o deus da Terra. Nut e Geb são pais de Osíris, Ísis, Seth, Néftis e Hathor. Osíris e Ísis já se amavam no ventre da mãe e a maldade de Seth, logo ficou evidente, quando ao nascer, este rasgou o ventre da mãe.
- GEB, o deus da Terra é irmão e marido de Nut. É o suporte físico do mundo material, sempre deitado sob a curva do corpo de Nut. Ele é o responsável pela fertilidade e pelo sucesso nas colheitas. Ele estimula o mundo material dos indivíduos e assegura-lhes enterro no solo após a morte. Geb humedece o corpo humano na terra e sela-o para a eternidade. Nas pinturas é sempre representado com um ganso sobre a cabeça.
- OSÍRIS, irmão e marido de Ísis, pai de Hórus. A origem de Osíris consta nos relatos da criação do mundo, sua geração é a última a acontecer e não representa mais os elementos materiais (espaço, luz, terra, céu…). Na lenda, que evoca o retorno da vida com a cheia do Nilo, após o período da seca, Osíris é morto, destruído e ressuscitado, representando a morte e renascimento da vegetação e de todos os seres. Por essa razão, ele é o deus dos mortos e do renascimento, rei e juiz supremo do mundo dos mortos. Acredita-se que ele tenha sido o primeiro Faraó e que ensinou aos homens as artes da agricultura e da civilização.
- ÍSIS, é a mais popular de todas as deusas egípcias, considerada a deusa da família, o modelo de esposa e mãe, invencível e protectora. Usa os poderes da magia para ajudar os necessitados. Ela criou o rio Nilo com as suas lágrimas. Conta a lenda que, após a morte de Osíris, ela transforma-se num milhafre para chorá-lo, reúne os pedaços de seus despojos, empenha-se em reanima-lo e dele concebe um filho, Hórus. Ela defende com unhas e dentes o seu rebento contra as agressões de seu tio Seth. Perfeita esposa e mãe ela é um dos pilares da coesão sócio-religiosa egípcia. Usa na cabeça um trono que é o hieróglifo de seu nome.
- SETH, personifica a ambição e o mal. Considerado o deus da guerra e Senhor do Alto Egipto durante o domínio dos Hicsos, tinha seu centro de culto na cidade de Ombos. Embora inicialmente fosse um deus benéfico, com o passar do tempo tornou-se a personificação do mal. Era representado por um homem com a cabeça de um tipo incerto de animal, parecido com um cachorro de focinho e orelhas compridas e cauda ereta, ou ainda como Tífon, um animal imaginário formado por partes de diferentes seres, com a cabeça de um bode, orelhas grandes, como um burro. Associavam-no ao deserto aos trovões e às tempestades. Identificado com o lado negativo da lenda, a luta entre Osíris e Seth era a luta da terra fértil contra a areia do deserto.
- NÉFTIS, é a esposa de Seth, mas quando este trai e assassina Osíris, por quem era apaixonada, ela permanece solidária à Ísis, ajudando-a a reunir os membros espalhados do defunto e também tomando a forma de um milhafre para velá-lo e chorá-lo. Como Ísis, ela protege os mortos, sarcófagos e um dos vasos canopos. O hieróglifo de seu nome é um cesto colocado sobre uma coluna, que usa na cabeça,. É ainda na campanha de Ísis que ela acolhe o sol nascente e o defende contra a terrível serpente Apófis.
- HÁTOR, personificação das forças benéficas do céu, depois de Ísis, é a mais venerada das deusas. Distribuidora do amor e da alegria, deusa do céu e protectora das mulheres, nutriz do deus Hórus e do faraó, patrona do amor, da alegria, da dança e da música. Também é a protectora da necrópole de Tebas, que sai da falésia para acolher os mortos e velar os túmulos. Seu centro de culto era a cidade de Dendera, mas havia templos dessa divindade por toda parte. É representada na forma de uma mulher com chifres de vaca e disco solar na cabeça, uma mulher com cabeça de vaca ou por uma vaca que usava um disco solar e duas plumas entre os chifres. As vezes é retratada por um rosto de mulher visto de frente e provido de orelhas de vaca, a cabeleira separada em duas abas com as extremidades enroladas.
- HÓRUS, filho de Ísis e Osíris, Hórus teve uma infância difícil, a sua mãe teve de escondê-lo de seu tio Seth que cobiçava o trono de seu pai Osíris. Após ter triunfado sobre Seth e as forças da desordem, ele toma posse do trono dos vivos; o faraó é sua manifestação na terra. Ele é representado como um homem com cabeça de falcão ou como um falcão, sempre usando as duas coroas do Alto e Baixo Egipto. Na qualidade de deus do céu, Hórus é o falcão cujos olhos são o sol e a lua. Com o nome de “Hórus do horizonte”, assume uma das formas do sol, a que clareia a terra durante o dia. Protector do universo e de todo tipo de vida, Hórus era adorado em todo lugar. Ele é considerado o mais importante de todos os deuses, aquele que guia as almas até o Dwat (Reino dos Mortos).
- ANÚBIS, filho de Seth e Néftis, é o mestre dos cemitérios e o patrono dos embalsamares. É na realidade o primeiro entre eles, a quem se deve o protótipo das múmias, a de Osíris. Todo egípcio esperava beneficiar-se na sua morte do mesmo tratamento e do mesmo renascimento desta primeira múmia. Anúbis também introduz os mortos no além e protege seus túmulos com a forma de um cão, vigilante, deitado numa capela ou sarcófago. Anúbis era também associado ao chacal, animal que frequentava as necrópoles e que tem por hábito desenterrar ossos, paradoxalmente representava para os egípcios a divindade considerada a guarda fiel dos túmulos. No reino dos mortos, era associado ao palácio de Osíris, na forma de um homem com cabeça de cão ou chacal, era o juiz que, após uma série de provas por que passava o defunto, dizia se este era justo e merecia ser bem recebido no além túmulo ou se, ao contrário, seria devorado por um terrível monstro, Amut. Anúbis tinha seu centro de culto em Cinópolis.
- TOTH, divindade à qual era atribuída a revelação ao homem de quase todas as disciplinas intelectuais, a escrita, a aritmética, as ciências em geral e a magia. Era o deus-escriba e o deus letrado por excelência. Havia sido o inventor da escrita hieroglífica e era o escriba dos deuses; senhor da sabedoria e da magia. O que faz dele o patrono dos escribas que lhe endereçam uma prece antes de escrever. “Mestre das palavras divinas”, preside a medida do tempo, o disco na cabeça é a lua, cujas fases ritmam os dias e as noites. Representado como um íbis ou um homem com cabeça de íbis, ou ainda um babuíno.
- MAÁT, esta deusa, que traz na cabeça uma pluma de avestruz, representa a justiça e a verdade, o equilíbrio, a harmonia do Universo tal como foi criado inicialmente. É também a deusa do senso de realidade. Filha de Rá e de um passarinho que apaixonando-se pela luminosidade e calor do Sol, subiu em sua direção até morrer queimado. No momento da incineração uma pena voou. Era Maat. É a pena usada por Anúbis para pesar o coraçáo daqueles que ingressam no Dwat. Em sociedade, este respeito pelo equilíbrio implica na prática da equidade, verdade, justiça; no respeito às leis e aos indivíduos; e na consciência do facto que o tratamento que se inflige aos outros pode nos ser infligido. É Maát, muito simbolicamente, que se oferece aos deuses nos templos. Protetora dos templos e tribunais.
- PTAH, deus de Mênfis que foi a capital do Egipto no Antigo Império, Ptah é “aquele que afeiçoou os deuses e fez os homens” e “que criou as artes”. Concebeu o mundo em pensamento e o criou por sua palavra. Seu grande sacerdote chama-se “o superior dos artesãos”. É, realmente, muito venerado pelos trabalhadores manuais, particularmente pelos ourives. Tem o préstimo dos operários de Deir el-Medineh. Apresenta-se com uma vestimenta colante que lhe dá a impressão de estar sem pescoço e usando na cabeça uma calota. Tem como esposa a deusa Sekhmet e por filho Nefertum, o deus do nenúfar (plantas aquáticas).
- SEKHMET, uma mulher com cabeça de leoa, encimada pelo disco solar, era uma de suas representações que, por sua vez, simbolizava os poderes destrutivos do Sol. Embora fosse uma leoa sanguinária, também operava curas e tinha um frágil corpo de moça. Era a deusa cruel da guerra e das batalhas e tanto causava quanto curava epidemias. Essa divindade feroz era adorada na cidade de Mênfis. Sua juba (dizem os textos) era cheia de chamas, sua espinha dorsal tinha a cor do sangue, seu rosto brilhava como o sol… o deserto ficava envolto em poeira, quando sua cauda o varria…
- BASTET, uma gata ou uma mulher com cabeça de gata simbolizava a deusa Bastet e representava os poderes benéficos do Sol. Seu centro de culto era Bubástis, cujo nome em egípcio (Per Bast) significa a casa de Bastet. No seu templo naquela cidade a deusa-gata era adorada desde o Antigo Império e suas efígies eram bastante numerosas, existindo, hoje, muitos exemplares delas pelo mundo. Quando os reis líbios da XXII dinastia fizeram de Bubástis sua capital, por volta de 944 a.C., o culto da deusa tornou-se particularmente desenvolvido.
- KHNUM, um dos deuses relacionados com a criação era simbolizado por um carneiro, animal considerado excepcionalmente prolífico pelos egípcios. Segundo a lenda, o deus Khnum, um homem com cabeça de carneiro, era quem modelava, no seu forno de oleiro, os corpos dos deuses e, também, dos homens e mulheres, pois plasmava em sua roda todas as crianças ainda por nascer. Principal deus da Ilha Elefantina, localizada ao norte da primeira catarata do Nilo, onde as águas são alternadamente tranquilas e revoltas. Tem duas esposas Anuket (águas calmas) e Sati (a inundação). Um dos velhos deuses cósmicos, é descrito como autor das coisas que são, origem das coisas criadas, pai dos pais e mãe das mães. Sua esposa Anuket ou Heqet, deusa com cabeça de rã, também era associada à criação e ao nascimento.
- SEBEK, um crocodilo ou um homem com cabeça de crocodilo representavam essa divindade aliada do implacável deus Seth. O deus-crocodilo, era venerado em cidades que dependiam da água, como Crocodilópolis, seu centro de culto, na região do Faium, onde os sáurios eram criados em tanques e adornados com jóias, protegidos, nutridos e domesticados. Um homem ferido ou morto por um crocodilo era considerado privilegiado. Sua adoração foi sobretudo importante durante o Médio Império.
- TUÉRIS, (Taueret) era a deusa-hipopótamo que protegia as mulheres grávidas e os nascimentos. Ela assegurava fertilidade e partos sem perigo. Adorada em Tebas, é representada em inúmeras estátuas e estatuetas sob os traços de um hipopótamo fêmea erguido, com patas de leão, de mamas pendentes e costas terminadas por uma espécie de cauda de crocodilo. Além de amparar as crianças, Tueris também protegia qualquer pessoa de más influências durante o sono.
- KHEPRA, (escaravelho, em egípcio) ou um homem com um escaravelho no lugar da cabeça também representavam o deus-Sol. Nesse caso o besouro simbolizava o deus Khepra e sua função era nada menos que a de mover o Sol, como movia a bolazinha de excremento que empurrava pelos caminhos. Associados à ideia mitológica de ressurreição, os escaravelhos eram motivo frequente das peças de ourivesaria encontradas nos túmulos egípcios.
- ÁPIS, o boi sagrado que os antigos egípcios consideravam como a expressão mais completa da divindade sob a forma animal e que encarnava, ao mesmo tempo, os deuses Osíris e Ptah. O culto do boi Ápis, em Mênfis, existia desde a I dinastia pelo menos. Também em Heliópolis e Hermópolis este animal sagrado era venerado desde tempos remotos. Essa antiga divindade agrária, simbolizava a força vital da natureza e sua força geradora.
A mitologia egípcia inclui muitos deuses e deusas, entretanto, geralmente representam o mesmo conjunto de forças e arquétipos. O grupo acima descrito, resume de modo satisfatório o grande panorama da religião egípcia que perdurou durante milénios.